Fui humilhada por duas vezes durante a vida.
O sentimento de vergonha, tristeza e impotência que senti, jamais esquecerei.
Durante uma reunião, escutei uma história que me remeteu a esses sentimentos.
Uma pessoa, que era cega, relatava que todos os dias se sentia humilhada, ao fazer uma tarefa simples para a maioria das pessoas: ir ao trabalho.
Isso porque ela não conseguia atravessar sozinha do ponto A para o ponto B, por falta de sinalização tátil. O ponto A era bem sinalizado mas o ponto B, não.
E era a partir do ponto B que ela conseguia chegar ao trabalho.
Os funcionários do ponto A, que já conheciam essa situação, muitas vezes a ajudavam, porém, por ordem de uma nova gestão, foram proibidos de saírem de seus postos de trabalho. Ou seja, todos os dias ela dependia da caridade de um estranho, para orientá-la até o ponto B.
Todos os dias.
Cinco vezes por semana.
A sinalização tátil permite que pessoas com deficiência visual e de baixa visão possam se encaminhar com autonomia, conforto e segurança. Mas para além do que pede qualquer legislação ou norma, ela dá condições de um cidadão ser reconhecido como tal e ter sua dignidade protegida ao garantir que possam desempenhar suas tarefas diárias como qualquer pessoa.
Porque sentir raiva, humilhação, impotência e tristeza por não conseguir ir e vir, como todas as pessoas, não é algo que deve ser aceito.
E é por isso que luto!
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